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A ciência por trás da resistência das pragas

A seleção de resistência depende de variabilidade genética preexistente nas populações de insetos e ácaros. É importante ressaltar que existem diferenças naturais de suscetibilidade a inseticidas químicos e biológicos entre populações de insetos. Dependendo do grau de variabilidade genética da população, pode ou não ocorrer resposta à pressão de seleção gerada pelo uso contínuo de inseticidas com o mesmo modo de ação.


Fatores que afetam a variabilidade genética, como mutações ou fluxo de genes provenientes de outras populações, acabam interferindo no desenvolvimento de resistência.


Em várias espécies de pragas, os níveis de resistência aumentam de forma contínua com cada ciclo de multiplicação do inseto. Esse ganho de resistência indica que há um controle multigênico da característica, onde cada lócus aporta uma pequena parte da resistência máxima possível.


O aspecto ecológico mais importante a se considerar no desenvolvimento e no manejo da resistência é a migração de indivíduos suscetíveis. Após a aplicação de elevadas doses de inseticidas químicos ou biológicos, somente os indivíduos resistentes sobrevivem.


Essa característica é determinada por pares de genes, denominados alelos, que podem ser dominantes ou recessivos (indicados por letras maiúsculas e minúsculas, respectivamente).


Se o alelo resistente for recessivo, o indivíduo resistente será sempre homozigoto (rr). Nesse caso, se houver imigração intensa de indivíduos suscetíveis, as progênies resultantes serão homozigotas suscetíveis (SS) e heterozigotas suscetíveis (rS), podendo ser controladas com tratamentos posteriores.


Por outro lado, se o alelo resistente for dominante, os heterozigotos também serão resistentes, diminuindo a importância da migração e resultando em rápida evolução da resistência.


Figura 1. Evolução da resistência em milho Bt e manejo com áreas de refúgio.

Fonte: Bernardi et al. (2016)

Pensando no manejo da resistência, o método da dominância efetiva consiste em aplicar doses elevadas do tratamento para permitir a sobrevivência de poucos indivíduos resistentes homozigotos (rr), cuja resistência se dilui pelo cruzamento com indivíduos suscetíveis imigrantes.


Porém, essa estratégia pode ser ineficaz quando a resistência for dominante, ou caso houver baixo fluxo de imigrantes suscetíveis. Por isso é crucial manter áreas de refúgio para suprir indivíduos suscetíveis.


Características inerentes aos inseticidas, como formulação e persistência no ambiente, também podem ser determinantes na evolução da resistência, já que a exposição a resíduos com atividade inseticida durante longos períodos elimina os indivíduos suscetíveis.


Outro ponto importante é a capacidade de dispersão da espécie, sendo que insetos com maior dispersão tendem a apresentar menor evolução nos níveis de resistência.


Com base nesse raciocínio, populações de lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) teriam menor probabilidade de desenvolver resistência, considerando seus altos índices de migração observados no Brasil. Já os percevejos da soja apresentam baixa taxa de migração, mesmo entre populações geograficamente próximas.


Na ausência de fluxo gênico, diminuem as chances de “diluição” dos genes de resistência, e aumenta o risco de desenvolvimento de resistência.


Por fim, populações de pragas sob pressão de seleção também apresentam diferentes respostas ao controle biológico. No caso da soja Bt que expressa a proteína Cry1Ac de Bacillus thuringiensis, a concentração das proteínas é suficiente para causar a mortalidade total de heterozigotos de Anticarsia gemmatalis, mas não de Chrysodeixis includens (BERNARDI et al., 2012).


Também é possível obter populações de A. gemmatalis resistentes ao baculovírus AgMNPV, (ABOT et al., 1996), embora essa característica seja herdada como caráter recessivo. Cabe ressaltar que, em muitos casos, a dominância ou recessividade pode ser função da dose utilizada. Ou seja, a resistência pode se tornar cada vez mais dominante se a concentração do tratamento diminui.


Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.






Referências: 

ABOT, A.R.; MOSCARDI, F.; FUXA, J.R.; SOSA-GÓMEZ, D.R.; RICHTER, A.R. Development of resistance by Anticarsia gemmatalis from Brazil and the united States to a nuclear polyhedrosis virus under laboratory selection pressure. Biological Control, v.7, p.126-130, 1996.


BERNARDI, O. Avaliação do risco de resistência de lepidópteros-praga (Lepidoptera: noctuidae) à proteína cry1Ac expressa em soja Mon 87701 x Mon 89788 no Brasil. 2012. 116 f. tese (Doutorado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP, Piracicaba, 2012.


SOSA-GÓMEZ, D. R.; OMOTO, C. Resistência a inseticidas e outros agentes de controle em artrópodes associados à cultura da soja. Em: HOFFMANN-CAMPO, C. B.; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; MOSCARDI, F. (Eds.) Soja: Manejo Integrado de Insetos e outros Artrópodes-praga. Embrapa, Brasília-DF, 2012.


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