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Armadilhas seguras e de baixo custo para controle da principal praga da bananeira




O nível de controle varia de dois até cinco insetos por armadilha, sendo o máximo de cinco no caso de bananais mais velhos



Armadilhas sustentáveis ​​e de baixo custo foram adaptadas para ajudar no controle do besouro Cosmopolites sordidus, transmissor da broca-do-rizoma, ou broca-da-bananeira, um dos principais problemas da cultura da bananeira.


A entomologista Marilene Francelli,  pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA), que estuda o monitoramento do inseto há mais de 20 anos, explica que as armadilhas consistem em pedaços de pseudocaules ou de rizomas cortados de bananeiras já colhidas — rizoma é a parte abaixo do solo, o caule verdadeiro da bananeira — que atraem o inserido pelo odor.


Segundo a especialista, a vantagem é que a armadilha, do tipo “cunha”, pode ser usada em sistema orgânico de produção, associada, ou não, ao controle biológico com Beauveria bassiana, fungo que pode parasitar insetos, matando-os ou incapacitando-os.


 


A entomologista Marilene Francelli orienta que a armadilha do tipo cunha pode ser usada em sistema orgânico de produção associado, ou não, com controle biológico FOTO: DJANE SILVA


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O vetor da broca-da-bananeira


Francelli destaca que o vetor da broca-do-rizoma, ou broca-da-bananeira, é o inseto Cosmopolites sordidus, conhecido vulgarmente como moleque-da-bananeira.


Ele mede cerca de onze milímetros de comprimento por cinco milímetros de largura na idade adulta.  “Essa é a principal praga da cultura da bananeira e dos plátanos (bananeiras tipo Terra) em todas as regiões brasileiras”, conta.


De acordo com informação da entomologista, nos plátanos, a praga provoca perdas que podem chegar até 80% da produção.


A entomologista explica que ressalta que o moleque-da-bananeira é ativo durante a noite e passa o dia em ambientes úmidos e sombreados, junto às touceiras e nos restos culturais espalhados pelo solo do bananal. “Esse inseto tem hábitos noturnos. Podemos dizer que ele tem vida livre porque não fica confinado no rizoma da bananeira”.


 


A armadilha cunha deve ser confeccionada com plantas colhidas em até, no máximo, 15 dias FOTO: Marilene Francelli – EMVR


Ataque severo


A pesquisadora da Embrapa orienta que o ataque severo às plantas acontece justamente na fase da larva, afetando o crescimento de raízes, prejudicando a absorção de água e nutrientes.  “Isso debilita demais as plantas e tornando-as mais sensíveis ao tombamento –  problema acentuado nos plátanos em decorrência de maior porte – e à descoberta de microrganismos patogênicos, capazes de produzirem doenças infecciosas em seus hospedeiros nas condições desenvolvidas para sua sobrevivência e desenvolvimento”, enfatiza.


 



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Monitoramento via armadilhas


Para enfrentar o moleque-da-bananeira, a solução da Embrapa vem de trabalhos de domínio público com o incremento de uma nova possibilidade, sustentável e com uso de recursos disponíveis nas propriedades rurais.


“Utilizamos um conhecimento que já vem de longa data, que é o inseto adulto ser atraído pelos odores da planta: o pseudocaule ou o rizoma cortado”, conta Francelli.


Segundo a pesquisadora, o inseto adulto estará sempre em busca de um novo hospedeiro para se desenvolver e iniciar o ciclo de infestação.


Ela ressalta que, “com base nessa informação, foram enviadas as armadilhas para monitoramento do inseto adulto e toda a dinâmica em termos de monitoramento populacional foi feita com base no número de insetos encontrados nas armadilhas”, conta.


A especialista orienta que o nível de controle varia de dois até cinco insetos por armadilha, sendo o máximo de cinco, no caso de bananais mais velhos.


As armadilhas de monitoramento mais conhecidas, de acordo com a pesquisadora, são do tipo “queijo” e “telha”, que têm esses nomes devido ao formato. Entretanto, avaliações realizadas pela Embrapa, desde 2015, em cultivos de plátanos na região baixo-sul da Bahia, demonstram a superioridade de outra armadilha, em formato de cunha, que contribuiu com 40% dos insetos capturados na área, sendo que os demais tipos capturaram 30% cada.


 


Nos plátanos (banana-da-Terra), a praga provoca perdas que podem chegar até 80% da produção – FOTO: EMPRAPA


 


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Tipos de armadilha


Francelli informa que a armadilha tipo telha é confeccionada com o pseudocaule da bananeira, que é a parte que fica acima do nível do solo e é cortado com cerca de 60 centímetros de altura.


“Partindo esse caule longitudinalmente, são obtidas duas armadilhas. Quando esse material é colhido, a parte cortada fica no solo; invertemos a sua posição e o inseto vai ser atraído pela armadilha e fica aquela parte cortada em contato com os odores da bananeira”, explica a pesquisadora.



  • Armadilha tipo telha


A pesquisadora da Embrapa completa que as armadilhas são feitas com bananeiras já colhidas. “Elas têm um grau de atração maior depois que atingem a fase de florescimento e após a colheita também; por isso, a atratividade desse material é maior para o inseto”, ensina.


Ela orienta que é recomendado o corte da parte mais basal da planta, que é o material mais úmido. “Essas telhas têm de ficar na base da touceira ao lado da bananeira que ainda não produziu o cacho, assim, vai protegendo a planta”.


Francelli salienta ainda que, “de acordo com dados da literatura, a armadilha do tipo ‘queijo’ é cerca de dez vezes mais atrativa do que a armadilha do tipo ‘telha’ e deve ser feita até 15 dias após a colheita para que possa conservar a umidade adequada para transportar os insetos adultos”.


De acordo com a especialista, o processo é o seguinte: “Faz-se um corte bem baixo no nível do rizoma, a cerca de 15 centímetros de altura. É um corte parcial, de forma que se mantém ainda o pedaço do pseudocaule unido à parte de baixo do rizoma. Ele vai abrir como se fosse uma boca, deixando uns 10% de área ainda sem cortar. Dessa forma, pode-se até colocar um apoio para favorecer a liberação dos gases que atraem os insetos.”


A pesquisadora completa que a armadilha, por sua vez, é produzida colocando as duas partes obtidas pelo corte do pseudocaule, uma em cima da outra, na posição horizontal, na base da touceira da banana. “Fica, então, uma ‘telha’ embaixo e outra em cima. Os insetos atraídos vão ficar entre uma fatia e outra”,  relata Fancelli.



  • Armadilha tipo cunha


A armadilha cunha deve ser confeccionada, de acordo com informação da entomologista da Embrapa, com plantas colhidas em até, no máximo, 15 dias. “Inicialmente, o pseudocaule deve ser rebaixado a uma altura de 50 cm e, em seguida, dois cortes são feitos no pseudocaule a aproximadamente 15 cm acima do solo, no formato de V horizontal”, ensina.


Ela completa que “o corte superior deve formar um ângulo de 45° graus em relação à superfície do corte inferior, paralelamente ao nível do solo”.


E finaliza explicando que “como ela fica com mais área de exposição em relação ao rizoma, consegue atrair mais insetos do que as outras armadilhas que testamos”, conta.


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O vetor da broca-do-rizoma, ou broca-da-bananeira, é o inseto Cosmopolites sordidus, conhecido vulgarmente como moleque-da-bananeira FOTO: EMBRAPA


Praticidade e a longevidade


O engenheiro-agrônomo Thiago Struiving, consultor de fazendas produtoras de banana no norte de Minas Gerais, é um dos adeptos da armadilha do tipo “cunha” há anos.


“Para monitoramento, normalmente confeccionamos um número reduzido de iscas, 30 a 50 por hectare. Quando é para efeito de controle, fazemos o máximo possível de iscas na área para poder baixar a população do inseto”, explica.


Para Struiving, as principais vantagens são a praticidade e a longevidade da armadilha: “No dia a dia, ela é mais prática de se fazer do que as dos tipos ‘queijo’ e ‘telha’ e, aparentemente, a ’cunha’ tem um período de atratividade maior”, acredita o agrônomo.


 


O corte superior na armadilha tipo “cunha” deve formar um ângulo de 45° graus em relação à superfície do corte inferior paralelamente ao nível do solo FOTO: EMBRAPA


Monitoramento e controle populacional do broca-do-rizoma


A armadilha tipo cunha é adaptada de uma versão desenvolvida na Costa Rica, e considerada a mais eficiente para monitoramento populacional e controle do broca-do-rizoma.


O entomologista César Guillén Sánchez utiliza armadilhas, na Costa Rica, como método para determinar as populações de insetos e possíveis alternativas de controle. “Avaliei essas armadilhas, principalmente para bananas Cavendish e Gros Michel. No caso dos plátanos, é um pouco diferente, pois nem sempre há muita disponibilidade de plantas recém-colhidas para fazer as armadilhas”, afirma.


Nesse caso,  o entomologista utiliza plantas recém-colhidas que estão presentes e completas com outros tipos de armadilhas, que também são eficientes quando não há material suficiente disponível.


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Fonte: Embrapa Mandioca e Fruticultura







Como fazer o monitoramento


Para realizar o monitoramento, Francelli ensina que, primeiramente, o produtor deve distribuir 20 armadilhas por hectare e voltar aos locais uma semana e duas semanas após a distribuição das armadilhas.


O segundo passo, de acordo com a pesquisadora da Embrapa, é fazer a contagem do número de insetos encontrados em cada armadilha, somar todos que encontrou e dividir pelo número de armadilhas.


Assim, completa a especialista, o produtor terá uma média populacional na primeira e na segunda avaliação. “Ele, então, calcula a média dessas duas avaliações e terá a média populacional no bananal, no lote ou no talhão avaliado”, explica.


Ela  orienta que, “se a média for superior a cinco adultos, o produtor já está perdendo e tendo prejuízo, então, ele precisa iniciar o controle”.








Fases de desenvolvimento do inseto


A entomolgista da Embrapa destaca que o moleque-da-bananeira (Cosmopolites sordidus) apresenta quatro fases de desenvolvimento: ovo, larva, pupa e adulto. As fêmeas colocam os ovos isoladamente em pequenos buracos abertos na periferia do rizoma, próximo ao nível do solo. “Três a quatro dias depois, nascem como larvas que iniciam a construção de galerias, tanto na parte interna como na periferia do rizoma, alimentando-se do tecido dos rizomas”, detalha.


Segundo a especialista, a fase larval dura entre 30 a 45 dias e é bastante severa para a planta que, em geral, apresenta desenvolvimento reduzido, amarelecimento das folhas e posterior ressecamento, falta de frutificação e, sobretudo em plantas jovens, morte da gema apical, que geraria o crescimento vertical da planta.


“Ao final desse tempo, é formada uma pupa, que se localiza na periferia do rizoma, e ela não mais se alimenta. A fase pupal dura cerca de sete dias e, após esse período, o adulto emerge na forma de um besouro de cor preta”, relata.






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